quinta-feira, 15 de março de 2012

Play Time Jacques.Tati



PLAYTIME, um filme visionário, actualíssimo em tempo de globalização, centra-se na viagem organizada dum grupo de americanos à Europa, para visitar "uma capital por dia". Em Paris, vêem o mesmo aeroporto de onde partiram em Roma, estradas iguais às que rodeiam Hamburgo, candeeiros idênticos aos de Nova Iorque, embora vão encontrando franceses, entre os quais o Sr.Hulot (Tati), inconfundível anti-herói burlesco.O autor dizia ser um filme "doutro planeta" e, de facto, o seu vanguardismo torná-lo-ia o filme maldito dum cineasta de sucesso até aí - com "Há Festa na Aldeia"/1947, "As Férias do Sr.Hulot"/53 e "O Meu Tio"/58, Óscar de Melhor Filme Estrangeiro - arruinando-lhe a carreira (já só realizou Trafic/1971 e Parade/74) e amargurando-lhe o resto da vida.

Modernidade de Tati é não só o emblema mais forte da obra de Tati mas também um dos filmes mais impressionantes que, durante a década de 60, saíram dos estúdios europeus: PLAYTIME, uma produção de 1967 que, na altura, chegou a Portugal com o título Vida Moderna.O trabalho de restauro de PLAYTIME resulta de um processo de rigor e exigência que pode ser tomado como exemplar para outros modelos de recuperação do património cinematográfico. Em primeiro lugar, foram reintegrados os extractos que Tati se vira forçado a suprimir, quando da reposição do filme em 1978; depois, as técnicas digitais permitiriam refazer as cores originais; além do mais, a banda-sonora, tão importante em toda a mise en scène de Tati, foi também objecto de cuidada reconversão, de modo a tirar o máximo partido da evolução técnica nesse campo. Encenado numa Paris em acelerada reconversão arquitectónica, PLAYTIME é um dos mais subtis retratos que já se fizeram das transformações da vida urbana. Perante a sua perene inteligência formal e crítica, o menos que se pode dizer é que Tati continua a ser um cineasta exemplarmente moderno.